segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O que é perfeito não precisa de nada!...

Sim, talvez tenham razão. Talvez em cada coisa uma coisa oculta more, Mas essa coisa oculta é a mesma Que a coisa sem ser oculta. Na planta, na árvore, na flor (Em tudo que vive sem fala E é uma consciência e não o com que se faz uma consciência), No bosque que não é árvores mas bosque, Total das árvores sem soma, Mora uma ninfa, a vida exterior por dentro Que lhes dá a vida; Que floresce com o florescer deles E é verde no seu verdor. No animal e no homem entra. Vive por fora por dentro É um já dentro por fora, Dizem os filósofos que isto é a alma Mas não é a alma: é o próprio animal ou homem Da maneira como existe. E penso que talvez haja entes Em que as duas coisas coincidam E tenham o mesmo tamanho. E que estes entes serão os deuses, Que existem porque assim é que completamente se existe, Que não morrem porque são iguais a si mesmos, Que podem mentir porque não têm divisão [?] Entre quem são e quem são, E talvez não nos amem, nem nos queiram, nem nos apareçam Porque o que é perfeito não precisa de nada. Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" Heterónimo de Fernando Pessoa